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Alerta sobre o futuro da Internet, caso o IPv6 venha a falhar.

Introdução

A Internet é realmente pródiga. Por exemplo, não esconde o passado. Em 2008, Geoff Huston, Cientista Chefe do APNIC, responsável pelo Potarroo, Cidr-Report e outras coisas mais fez uma palestra[1], cujo título não necessariamente é o da referência. Um consistente testemunho de alguém que vive e respira a Internet. Mais, recentemente, ele volta à carga quando se fala em insucesso ou alguma falha qualquer no IPv6[2], em resposta à pesquisa de de Emile Aben[3], unindo-se ao coro desse, para “Go dual-stack. Now.”. A esse coro, recomenda-se juntar, quando se lê as entrelinhas de Geoff Huston, em particular, de sua palestra de 2008, depois de dois anos, com o mesmo cenário.

Geoff Huston - Lacnic 18

Com Geoff Huston, durante o Lacnic18, em Montevidéu.

Onde está o problema?

Geoff, em 2008, analisa com precisão incomum a perspectiva do insucesso do IPv6. Indica em uma avalição segura e, certamente com base em seus estudos sistemáticos incluindo um recente[4] – no qual o Brasil não possui expressividade -, que devemos levar de 10 a 20 anos para nos livrar da dependência integral do IPv4. Talvez menos, se houver uma injeção de ânimo aos que lidam com a infraestrutura da Internet reagindo ao princípio da procrastinaçãodefinição.

Se IPv6 é a solução para o esgotamento do IPv4, Geoff apresenta 4 planos, discutidos a seguir.

Plano A: Hora de agir!

“A Internet global, com mais do que 1,7 bilhões de usuários, uma população de hosts equivalente, centenas de milhões de roteadores, firewalls, bilhões de linhas de códigos de configurações, centenas de milhões de sistemas auxiliares de suporte onde somente uma pequena proporção está em IPv6, atualmente, serão todas atualizadas para trabalhar com IPv6, nos próximos 300 dias e, eliminar completamente o IPv4, dez dias mais tarde.”

I M P O S S Í V E L !
I M P R A T I C Á V E L !

Plano B: Pilha Dupla

Continuar com a implementação vagarosa do IPv6 e manter o rítmo do IPv4, já que apesar de sabermos que o estoque do IANA termina, nesse mês de Janeiro/2011. Manter o IPv4 no rítmo atual significa conviver em futuro próximo com alta intensidade de implentação do NAT. Essa proposta é conveniente até porque, a Pilha Dupla é fácil de implementar.

A questão é que isso levará mais uma década. Talvez 20 anos pensa o Geoff. E ele tem razão! Mas, que sejam os 20 anos. Geoff expõe duas perguntas caso seja escolhido esse Plano B partindo da premissa de que ele é necessário pois o IPv6 é a solução;

  • Se o IPv4 é uma necessidade para os próximos 10 ou 20 anos, qual o exato papel do IPv6, nesse contexto?
  • Qual benefício (marginal) haverá com o custo advindo da implmentação do IPv6 na Pilha Dupla?
  • Ah! Que constrangimento, hem! Afinal, para que estamos nessa história?

Para fazer negócios! A Internet existe porque há consumidores para ela. Isto é, clientes. Como um outro negócio qualquer. E:

  • Empresas e instituições que gravitam em torno da Internet estão interessadas no que seus clientes desejam.
  • Já os clientes, não possuem nenhum conhecimento do que é esse tal do IPv6. Dificilmente irão pagar “algo mais ” por esse tal de IPv6!
  • Exceto talvez o estado, marginal na demanda, nenhuma outra empresa está interessada em implementar o IPv6 gratuitamente.

Uma cinuca de bico ou uma outra insucesso nos planos de negócios?, pergunta Geoff. E, continua:
“A adoção de IPv6 oferece todo um benefício marginal associado a uma mudança razoavelmente pequena de tecnologia e a mudança em custos, interrompendo as naturais expectativas de esforços muito grande nas atualizações.”. Em outras palavras, o esquema do novo protocolo foi muito bem bolado, pensando comercialmente.

Beleza! Mas …

Plano X: IPv4 para sempre!

Por outro lado, na hipótese de insucesso do IPv6 há outras opções. Opções de implementações continuando o uso do IPv4. Como já foi dito, com intensivo uso de NAT. Excelentes técnicas de NAT! Também deve-se lembrar de que entre 5% a 20% do pool de endereçamento IPv4 estão sendo usados! Se envolver dinheiro e novos mercados é possível imaginar a devolução de endereços para serem redistribuídos. Considerando-se as premissas abaixo é necessário não mais do que 4 blocos /8:

  • A transição via Pilha Dupla irá levar 10 anos;
  • A demanda para o crescimento da Internet é de 200 milhões de conexões por ano;
  • NAT pode atingir a eficiência em utilizar 50% de endereços com até 600 portas por cliente.

E os próximos 10 anos? E, novamente, os próximos 10 anos? Complicado! Há outras opções, se IPv6 não for a solução? Ah, o Plano Z!

Plano Z: Application Level Gateways

Trata-se de uma alternativa em que não há necessidade de IP fim-a-fim. Tecnologia muito usada na década de 1980, envolvendo: redes de circuito, rede de pacotes e talvez, tecnologias baseadas no conceito de localizador e identidade. Tecnologias quase esquecidas que precisaremos de reaprender.

Mas há uma alternativa exuberante: IP Multimedia Subsystem ou IMS5. O IMS, além de ser arquitetura Application Level Gateways, usa proxies e não precisa de IP fim-a-fim. É um paradigma de grandes vendedores e grandes compradores. Geoff, entretanto, justifica porque é uma alternativa indesejável:

  • Escalabilidade de alto custo.
  • Escalabilidade na complexidade e na fragilidade da aplicação.
  • Imensa redução da flexibilidade do uso de redes.
  • Desaparece com a inovação nos serviços de comunicações.
  • Crescimento absurdo dos riscos de falha.
  • Cliente/usuário é capturado pela concessionária.
  • Retorno ao sombrio mecanismo economico de integração vertical do monopólio das concessionárias.

Escolha indesejável, certamente!

Geoff exibiu alternativas para a Internet, que não incluem a implementação universal do IPv6. Da nossa parte resta a escolha correta. Reflexões sobre vários pontos não mostrados claramente por Geoff Huston. Por exemplo, sobre a tabela parcial abaixo listando os detentores de /86:

Bloco Organização
0.0.0.0/8 IANA (Internet Assigned Numbers Authority) Local Identification
3.0.0.0/8 General Electric
4.0.0.0/8 Level 3 Communications (originally BBN, then GTE, then Genuity)
6.0.0.0/8 United States Department of Defense USAISC
7.0.0.0/8 United States Department of Defense Network Information Center
8.0.0.0/8 Level 3 Communications (originally BBN)
9.0.0.0/8 IBM
10.0.0.0/8 reserved for RFC1918 usage
11.0.0.0/8 United States Department of Defense Network Information Center
12.0.0.0/8 AT&T Worldnet Services
13.0.0.0/8 Xerox Palo Alto Research Center
15.0.0.0/8 Hewlett-Packard
16.0.0.0/8 Hewlett-Packard (originally DEC, then Compaq)
17.0.0.0/8 Apple Inc.
18.0.0.0/8 Massachusetts Institute of Technology
19.0.0.0/8 Ford Motor Company
20.0.0.0/8 Computer Sciences Corporation
21.0.0.0/8 United States Department of Defense Network Information Center
22.0.0.0/8 United States Department of Defense Network Information Center
24.0.0.0/8 Various U.S. and Canadian Cable Networks
25.0.0.0/8 British Ministry of Defence
26.0.0.0/8 United States Department of Defense Network Information Center
28.0.0.0/8 United States Department of Defense Network Information Center
29.0.0.0/8 United States Department of Defense Network Information Center
30.0.0.0/8 United States Department of Defense Network Information Center
32.0.0.0/8 AT&T Global Network Services
33.0.0.0/8 United States Department of Defense Network Information Center
34.0.0.0/8 Halliburton Company
35.0.0.0/8 Merit Network, Inc.
38.0.0.0/8 Cogent Communications (originally Performance Systems International)
40.0.0.0/8 Eli Lilly and Company
44.0.0.0/8 Amateur Radio Digital Communications
45.0.0.0/8 Interop Show Network (all but a /15 to be returned to ARIN pool per 10/2010 announcement)
47.0.0.0/8 Bell-Northern Research (now a unit of Nortel)
48.0.0.0/8 The Prudential Insurance Company of America
51.0.0.0/8 UK Department for Work and Pensions
52.0.0.0/8 E.I. DuPont de Nemours and Co., Inc.
53.0.0.0/8 Cap debis ccs (Daimler AG)
54.0.0.0/8 Merck and Co., Inc.
55.0.0.0/8 United States Department of Defense USAIC
56.0.0.0/8 United States Postal Service
57.0.0.0/8 SITA

A IBM tem, adicionalmente, o bloco 129.42.0.0/16, com atribuição anterior ao bloco 9.0.0.0/8. É possível, em grupo, alterar a funcionalidade atual da Internet. Basta que se convença de que o IPv6 não é a solução e, cujo maior inimigo é o tempo. Existem muitos meios de fazer, em particular explorando a vulnerabilidade oportunista que está rondando a Internet neste momento. Exige, no mínimo, um olhar atento!

Os argumentos finais

A palestra do Geoff Huston vai um pouco além ao indicar algumas alternativas:

  • Deixar as coisas para os últimos “milesegundos” pode não ser uma escolha correta
  • IPv6, ainda representa a opção menos arriscada e mais conveniente para a sociedade, como um todo.
  • Embora a perspectiva de insucesso do IPv6 seja um fato claro, ela não é uma opção que poderá servir aos interesses de manter a Internet com as características inovadoras disponíveis atualmente.
  • Ambientes completamente desregulados, não necessariamente, são as escolhas mais inteligentes e, portanto é provável de que algumas pressões sejam necessárias e de maneira mais impetuosa.

Conclusões

E o Brasil? O Brasil está indo bem, mas deveria ir melhor. Primeiro porque somente uma instituição está, efetivamente, enganjada no processo de viabilizar o IPv6, o Nic.br. Sob o comando do Antônio Moreiras, merece ser dito, tem feito um bom trabalho. O material disponível em http://ipv6.br é imenso e muito interessante, além de sistematicamente atualizados. Mas, o esforço do Nic.br não tem sido suficiente. Ele padece de problemas crônicos: pouco agressividade nos assuntos diretamente ligados à Infraestrutura da Internet, expressivamente acanhado, em relação ao IPv6 como protocolo do futuro, continua não iteragindo com à comunidade especializada e muito lento nas iniciativas. Por exemplo, seguir o caminho correto de implementação dos PTTs com mais agressividade e agilidade, além de estender o trânsito IPv6 para TODOS eles, totalmente subsidiado, inicialmente. Paulatinamente, diminuindo o subsídio, até zerá-lo.

Não há participação das Associações de classe com foco na Internet. Absolutamente, nenhuma! O Comitê Gestor da Internet Brasileira pode forçar o Nic.br a reagir induzindo à participação das Associações. Mas, é bom lembrar: Associações (com A maiúlculo). Existem muito poucas, infelizmente, no Brasil.

As participações individuais (provedores!) estão frágeis. Medo do IPv6? Síndrome do princípio da procrastinação? Falta de tempo imediato? É preciso quebrar a letargia da comunidade. Eis ai uma boa preocupação para as Associações. Quando aos pequenos e médios provedores, indutores da Internet Brasileira, o alerta está dado pelo Geoff Houston!

No mundo? Muitos esforços estão sendo feitos e provavelmente o Geoff Houston tem parte da culpa por esse avanço. O RIPE NCC é um dos mais ativos e, também, o APNIC. Organizações como a Hurricane Eletric, grande provedor de backbone foi uma das primeiras a iniciar as atividades oferecendo oportunidades para todos através de seu “tunnel broker”. O pessoal técnico tem produzido um bom material prático7. A página de Owend DeLong (http://owend.corp.he.net/) exibe bons trabalhos.

Dá para manter o otimismo ao final das contas, mas atento ao alerta.

Referências

  1. Geoff Huston, How IPv6 is going to be bigger, better, faster and shinier. Disponível em: http://www.potaroo.net/presentations/2008-11-17-ipv6-failure.pdf. Acessado em 12/01/2011.
  2. Geoff Huston, Failing IPv6, Dezembro 2010. ISP Column, Potarroo. Disponível em: http://www.potaroo.net/ispcol/2010-12/6to4fail.html. Acessado em; 14/01/2011.
  3. Emile Aben, 6to4 – How Bad is it Really?, 01/122010, Disponível em: http://labs.ripe.net/Members/emileaben/6to4-how-bad-is-it-really. Acessado em; 14/01/2011.
  4. Geoff Huston, Addressing 2011, Janeiro 2010. ISP Column, Potarroo. Disponível em: http://www.potaroo.net/ispcol/2011-01/addresses-2010.html. Acessado em; 14/01/2011.
  5. Wikipedia, IP Multimedia Subsystem. Disponível em: http://en.wikipedia.org/wiki/IP_Multimedia_Subsystem. Acessado em 12/01/2011.
  6. IANA IPv4 Address Space Registry, Disponível em: http://www.iana.org/assignments/ipv4-address-space/ipv4-address-space.xml. Acessado em 13/01/2011.
  7. Owen DeLong, Porting IPv4 applications to IPv4/v6 dual stack. 17/10/2009. Disponível em: http://owend.corp.he.net/ipv6/Porting/PortMeth.pdf
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